Desafios da Maternidade sob a Perspectiva da Psicologia Baseada em Evidências
- Fernanda Braga
- há 4 dias
- 4 min de leitura
A maternidade é uma experiência transformadora, permeada por desafios únicos que impactam a saúde mental e o bem-estar da mulher. A psicologia baseada em evidências oferece um arcabouço valioso para compreender e intervir nesses desafios, e abordagens como a Terapia Cognitivo-Comportamental (TCC), a Terapia do Esquema e a Terapia de Aceitação e Compromisso (ACT) se mostram particularmente relevantes.
A transição para a maternidade pode desencadear ou exacerbar diversas dificuldades psicológicas, incluindo:
Depressão Pós-Parto (DPP): Uma condição prevalente que afeta o humor, o comportamento e a cognição materna, com implicações significativas para a díade mãe-bebê. Evidências apontam para a eficácia de intervenções psicológicas na prevenção e tratamento da DPP.
Ansiedade: Preocupações excessivas relacionadas à saúde do bebê, às mudanças na dinâmica familiar e à própria capacidade de maternar são comuns. A ansiedade pode se manifestar de diversas formas, impactando o sono, a alimentação e o bem-estar geral.
Transtorno Obsessivo-Compulsivo (TOC): Pensamentos intrusivos e comportamentos repetitivos focados em temas relacionados ao bebê e à maternidade podem surgir ou piorar no período pós-parto.
Estresse Pós-Traumático (TEPT): Experiências de parto traumáticas ou complicações podem levar ao desenvolvimento de sintomas de TEPT.
Ajustamento ao Novo Papel: A identidade da mulher passa por transformações significativas, e a adaptação às novas responsabilidades e expectativas sociais pode ser desafiadora.
Isolamento Social: A dedicação integral ao bebê pode levar à redução do contato social e sentimentos de solidão.
Culpa e Autocrítica: Sentimentos de inadequação e a comparação com ideais de "mãe perfeita" podem gerar intensa autocrítica.
Dificuldades no Relacionamento Conjugal: A chegada de um bebê altera a dinâmica do casal, podendo gerar conflitos e dificuldades de comunicação.
A psicologia baseada em evidências enfatiza a importância de utilizar intervenções com suporte científico para abordar esses desafios, buscando resultados eficazes e seguros para as mães.
Abordagens Terapêuticas e a Maternidade
As abordagens terapêuticas mencionadas oferecem ferramentas e estratégias específicas para auxiliar as mães a lidar com os desafios da maternidade:
Terapia Cognitivo-Comportamental (TCC)
A TCC foca na identificação e modificação de pensamentos e comportamentos disfuncionais que contribuem para o sofrimento emocional. Na maternidade, a TCC pode ser aplicada para:
Reestruturação Cognitiva: Ajudar a mãe a identificar e desafiar pensamentos negativos automáticos sobre si mesma, seu bebê e sua capacidade de maternar. Por exemplo, pensamentos como "Eu sou uma péssima mãe porque meu bebê chora muito" podem ser examinados e substituídos por pensamentos mais realistas e compassivos.
Técnicas Comportamentais: Implementar estratégias para manejar a ansiedade (como relaxamento e respiração), melhorar o sono, aumentar o repertório de comportamentos adaptativos e promover o autocuidado.
Exposição: Em casos de ansiedade ou TOC relacionados à maternidade, a exposição gradual a situações temidas pode ajudar a reduzir a evitação e a ansiedade associada.
Resolução de Problemas: Ensinar habilidades para lidar de forma eficaz com os desafios práticos da maternidade.
Psicoeducação: Fornecer informações sobre as mudanças esperadas na maternidade, os sintomas de transtornos mentais e as estratégias de enfrentamento disponíveis.
Terapia do Esquema
A Terapia do Esquema se aprofunda nas origens dos padrões de pensamento e comportamento disfuncionais, identificando "esquemas" mal adaptativos desenvolvidos na infância. Na maternidade, essa abordagem pode ajudar a:
Identificar Esquemas Desencadeados: A transição para a maternidade pode ativar esquemas como privação emocional, abandono, inadequação/vergonha e padrões de exigência excessiva. Compreender esses esquemas ajuda a mãe a entender suas reações emocionais intensas.
Modos Esquemáticos: Reconhecer os diferentes "modos" (estados emocionais e comportamentais) que são ativados, como o modo "criança vulnerável" (sentimentos de fragilidade e necessidade de cuidado) ou o modo "pai/mãe punitivo" (autocrítica severa).
Reparentalização Limitada: O terapeuta oferece um relacionamento terapêutico seguro e empático que ajuda a suprir, de forma limitada, as necessidades emocionais não atendidas na infância, promovendo a cura dos esquemas.
Confrontação Empática: O terapeuta valida os sentimentos da mãe ao mesmo tempo em que a ajuda a confrontar os padrões de pensamento e comportamento disfuncionais.
Promoção do Modo Adulto Saudável: O objetivo é fortalecer o modo adulto saudável da mãe, ajudando-a a atender suas próprias necessidades e as do bebê de forma equilibrada.
Terapia de Aceitação e Compromisso (ACT)
A ACT se concentra em aumentar a flexibilidade psicológica, a capacidade de estar em contato com o momento presente e agir de acordo com os valores pessoais, mesmo diante de pensamentos e sentimentos difíceis. Na maternidade, a ACT pode auxiliar em:
Aceitação Psicológica: Em vez de lutar contra pensamentos e sentimentos negativos (como ansiedade, culpa ou frustração), a ACT ensina a aceitá-los como parte da experiência humana. Isso reduz a energia gasta na evitação e permite que a mãe se concentre no que é importante para ela.
Desfusão Cognitiva: Aprender a se distanciar dos pensamentos, reconhecendo-os como eventos mentais e não como verdades absolutas. Isso ajuda a diminuir o impacto de pensamentos autocríticos.
Contato com o Momento Presente: Desenvolver a habilidade de estar presente e consciente da experiência do momento, o que pode aumentar a conexão com o bebê e reduzir a ruminação sobre o passado ou preocupações com o futuro.
Clarificação de Valores: Identificar o que é verdadeiramente importante para a mãe em sua vida (como amor, conexão, cuidado, crescimento pessoal) e usar esses valores como guia para suas ações.
Ação Comprometida: Tomar ações concretas alinhadas com seus valores, mesmo quando se enfrenta dificuldades emocionais. Por exemplo, se a conexão com o bebê é um valor importante, a mãe pode se comprometer a passar um tempo de qualidade com ele, mesmo se estiver se sentindo ansiosa.
Self como Contexto: Desenvolver uma perspectiva de "eu observador", que permite à mãe reconhecer seus pensamentos e sentimentos sem se identificar totalmente com eles.
Em resumo, a maternidade apresenta desafios complexos que podem ser abordados de forma eficaz através de uma perspectiva da psicologia baseada em evidências. A TCC, a Terapia do Esquema e a ACT oferecem ferramentas valiosas para ajudar as mães a desenvolverem resiliência, manejarem suas emoções e construírem uma experiência de maternidade mais saudável e satisfatória. A escolha da abordagem terapêutica deve ser individualizada, considerando as necessidades e características de cada mãe.
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